My Way - Mars - Gun's... Canções que tocam a minha ALMA (seleção csl)

domingo, 14 de outubro de 2012

Tereza




.

As duas Terezas! – Azevedo e Alves – breve análise

O Adeus de Tereza – Castro Alves
A vez primeira que eu fitei Tereza,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus…
E amamos juntos… E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala…
E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
Uma noite… entreabriu-se um reposteiro…
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa…
E ela entre beijos murmurou-me “adeus!”
Passaram tempos… sec’los de delírio
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
… Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — “Voltarei!… descansa!…”
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Quando voltei… era o palácio em festa!…
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!… Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!…
E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”
Teresa- Álvares de Azevedo
Je lsayme tant que je nsose lsaymer.
Clément Marot
Quando junto de mim Teresa dorme,
Escuto o seio dela docemente:
Exalam-se dali notas aéreas,
Não sei quê de amoroso e de inocente!
Coração virginal é um alaúde
Que dorme no silêncio e no retiro…
Basta o roçar das mãos do terno amante,
Para exalar suavíssimo suspiro!
Nas almas em botão, nesse crepúsculo
Que da infante e da flor abre a corola,
Murmuram leve os trêmulos sentidos,
Como ao sopro do vento uma viola.
Diz amor! essa voz da lira interna,
É suspiro de flor que o vento aagita,
Vagos desejos, ânsia de ternura,
Uma brisa de aurora que palpita.
Como dorme inocente esta criança!
Qual flor que abriu de noite o níveo seio,
E se entrega da aragem aos amores,
Nos meus braços dormita sem receio.
O que eu adoro em ti é no teu rosto
O angélico perfume da pureza;
São teus quinze anos numa fronte santa
O que eu adoro em ti, minha Teresa!
São os louros anéis de teus cabelos,
O esmero da cintura pequenina,
Da face a rosa viva, e de teus olhos
A safira que a alma te ilumina!
É tua forma aérea e duvidosa
- Pudor d’infante e virginal enleio;
Corpo suave que nas roupas brancas
Revela apenas que desponta o seio.
Eu seii, mimosa, que tu és um anjo
E vives de sonhar, como as Ondinas,
E és triste como a rola, e quando dormes
Do peito exalas músicas divina!
Ah! perdoa este beijo! eu te amo tanto!
Eu vivo de tua alma na fragrância…
Deixa abrir-te num beijo as flores d’alma,
Deixa-me respirar na tua infância!
Não acordes tão cedo! enquanto dormes
Eu posso dar-te beijos em segredo…
Mas, quando nos teus olhos raia a vida,
Não ouso te fitar… eu tenho medo!
Enquanto dormes, eu te sonho amante,
Irmã de serafins, doce donzela;
Sou teu noivo… respiro em teus cabelos
E teu seio venturas me revela…
Deliro… junto a mim eu creio ouvir-te
O seio a suspirar, teu ai mais brando,
Pouso os lábios nos teus; no teu alento
Volta minha pureza suspirando!
Teu amor como o sol apura e nutre;
Exala fresquidão e doce brisa;
É uma gota do céu que aroma os lábios
E o peito regenera e suaviza.
Quanta inocência dorme ali com ela!
Anjo desta criança, me perdoa!
Estende em minha amante as asas brancas,
A infância no meu beijo abandonou-a!
Comentários:
Teresa
Primeiramente, falemos dos poemas.
O primeiro deles, intitulado de “Teresa”, foi escrito por Álvares de Azevedo, o escritor ultra-romântico que, segundo os historiadores da Literatura, pertenceu a segunda geração de poetas do Romantismo Brasileiro. A aludida geração de poetas ficou marcada mormente pela influência de românticos europeus, tais como: Lord Byron, Musset, dentre outros. Eles receberam também a alcunha de satânicos, graças aos temas macabros que eram abordados em seus versos. Ademais, ficaram marcados pelo pessimismo exarcebado e por um grande apego à morbidez. E, de mais a mais, incorporavam em suas obras a figura da mulher idealizada que consistia, basilarmente, numa moça virgem, pálida pura de sentimentos e que, na maioria das vezes, assemelhava-se a um anjo.
Poder-se-ia dizer que “Teresa” conta com alguns desses elementos. Vejamos como isso operar-se-ou no poema.
Porém, antes de elenca-los, vejamos alguns aspectos formais da supradita obra de Azevedo.
“Teresa” conta com 15 estrofes compostas por quatro versos cada. O poeta lançou mão de decassílabos. O padrão de rimas é variado, em algumas estrofes encontrar-se-á uma repetição, em outras ele inverte-se totalmente.
Partamos, agora, para a interpretação.
A epígrafe escrita em francês revela, logo de início, o tema que o poeta romântico buscou trazer à baila. Diz o escrito em francês que: seu amor por ela é grande, e devido a isso ele não pode amá-la. Eis que temos um pensamento assaz paradoxal. Contudo, no decorrer dos versos iremos entender o porquê.
Encontramos um sujeito-lírico que está deitado ao lado de sua amada. Nas estrofes vemos que ela é uma moça totalmente idealizada. Ele a compara os sentimentos dela a de uma criança, isto é, diz que a alma dela é pura. Ora, sendo pura, seu corpo é imaculado; deste modo, o sujeito-lírico está diante duma moça virgem, ou seja, uma donzela. A amada que dorme também é comparada à uma Santa, isso reforça ainda mais o grau de pureza, tanto de sua alma, bem como a de seu corpo. Além disso, a jovem que está a dormir é, outrossim, comparada a um anjo, um ser celestial que não conhece o pecado.
Diante de um ser tão perfeito, o eu-lírico azevediano não consegue expressar o amor por essa donzela quando a mesma está acordada. Sendo assim, ousa somente tocar os lábios dela, enquanto ela está sendo embalada por Morfeu. Porém, na última estrofe, o sujeiro-lírico, devido ao beijo que ele sorveu nos lábios da jovem celestial, retirou dela a inocência. Deste modo, ela a pede perdão, mostrando que, dum certo modo, sentiu-se arrependido por beijá-la.
Gostaria, para findar esse breve comentário, falar das metáforas que praticamente estão presentes em todas as estrofes. Grande parte delas são usadas principalmente para ressaltar o caráter de pureza de sua amada. Na estrofe cinco, encontramos no segundo verso um bom exemplo de utilização desse tropo.

O adeus de tereza

“O ‘Adeus’ de Teresa” foi escrito por Castro Alves, que é considerado pela crítica outro grande poeta dos oitocentos. Os historiadores literários costumam a situar a obra de Alves na chamada terceira geração do romantismo, cujo nome é Condoreira.
Vamos direto ao ponto que nos interessa: a análise do poema.
Nesse poema de Alves encontramos versos de 11 e dez silabas em algumas estrofes. O padrão de rimas da primeira estrofe se dá da seguinte maneira: AABAA; na segunda: B; na terceira: CCBAA; na quarta: B; na quinta: DDBAA, na sexta: B; na sétima encontra-se o mesmo esquema da primeira estrofe; na última o padrão é B.
Faz-se interessante mencionar o padrão das estrofes compostas somente com um verso, há o uso da repetição do substantivo abstrato “adeus” a todo momento; eis aí o uso da anáfora, posto que o mencionado substantivo está presente sempre no final dos versos. Ainda sobre esse recurso que o poeta lançou mão, poder-se-ia afirmar que ele ilustra uma dimensão comunicativa da poesia de Alves, pois o tema narrativa nunca se deixa perder para os ouvidos; em outras palavras, o poeta não abandona a sonoridade que sempre foi um ponto alto em seus versos.
O uso da metáfora também está presente, o leitor poderá notar, por exemplo, o emprego deste tropo na primeira estrofe, o eu-lírico compara a valsa que ele dançou com a moça como as plantas que são levadas pela correnteza.
Deixando, agora, os elementos formais à parte, vejamos como o poeta trabalhou o tema do amor.
Percebe-se que diferentemente da poema “Teresa” de Álvares de Azevedo, o eu-lírico de Castro Alves concretiza seu amor. Um amor imoral para os padrões do século XIX. Como? Explicar-vos-ei! Os versos trazem à tona uma franca propaganda de uma vida amorosa diversificada e plena antes do casamento.

Pontos convergentes e divergentes

Certo. Já que falamos desses dois poemas românticos, quais seriam as convergências e divergências encontradas em ambos? Apresentar-vos-ei essas fatores que se coadunam ou não, por tópicos. Vamos lá!
Os poemas são românticos, todavia pertencem a momentos, pelo menos segundo aos historiadores da Literatura, a momentos distintos.
O amor do eu-lírico de Azevedo não se concretiza. Esse sentimento no de Alves é consumado, visto que o eu-lírico visitou a alcova da amada e lá amou-a.
Não uma idealização da mulher amada na obra e Alves. Na de Azevedo, a idealização é presente e assaz explorada pelo poeta.

Fonte: http://www.literaturaemfoco.com/?p=1420
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.