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Texto meu csl
Sabem a diferença
de Estória e História? Não?
Bem simples,
Estória diziam os eruditos que tratava-se desta forma quando contávamos,
narrávamos fatos, eventos que guardavam relaçaõ com algo imaginário, coisas que
criamos, a exemplo de um conto de fadas, star wars (ficção), Minority Report
(Idealizar o futuro), Estória para frente, fábulas (os três porquinhos), e
assim vai, e enfim História ficaria reservado a fatos históricos, situações a
exemplo da 1a. guerra mundial, Queda das Torres Gêmeas.
Verdade é que
poucas pessoas sabem a diferença, e eu pergunto, faz diferença sabe a
diferença? O que muda em nossa vida, ah muda, nos apresentaremos mais cultos se
soubermos... humm, quem sabe? Pode ser, pode não ser, as vezes não é muito bom
transparecer ser culto ou não... Como dizia Caetano Veloso.
Boa Leitura, o
texto é bom, embora eu não dispensaria de forma alguma um Termo Armani.
O Rei Nu
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Hans
Christian Andersen foi um dinamarquês que gostava de contar estórias para
grandes e pequenos. Todos conhecem a estória do Patinho Feio. Imagino que ele
a inventou para consolar um menino feio, sem amigos, motivo de zombaria.
Contou também a estória de uma menininha que, numa véspera de Natal, a neve
caindo, tentava vender fósforos numa esquina da cidade. Ninguém parava.
Ninguém comprava. Todos caminhavam apressados para suas casas onde havia uma
lareira acesa, o vinho, a ceia e os presentes os esperavam. Todos queriam
celebrar o nascimento de Jesus. É uma estória triste. De manhã a menininha
estava morta na calçada, gelada pelo frio. É uma estória bem brasileira: não
temos menininhas vendendo fósforos sob a neve que cai mas temos muitas
crianças, adolescentes e velhos vendendo balas de goma nos semáforos. Eu
também gosto de inventar estórias. E tenho prazer especial em re-contar
estórias conhecidas dando-lhes um fim diferente.
Algumas
das estórias de Hans Christian Andersen estão cheias de humor e ironia, como
aquela do rei vaidoso que gostava de se vestir elegantemente. Vou
recontar esta estória com dois finais: o dele e o meu.
“Havia
um rei muito tolo que adorava roupas bonitas. Os tolos, geralmente, gostam de
roupas bonitas. Pois esse rei enviava emissários por todo o país com a missão
de comprar roupas diferentes. Era o melhor cliente da Daslu. Os seus
guarda-roupas estavam entulhados com ternos, sapatos, gravatas de todas as
cores e estilos. Eram tantas as suas roupas que ele estava muito triste
porque seus emissários já não encontravam novidades.
Dois
espertalhões ouviram falar do gosto do rei pelas roupas e viram nisso
uma oportunidade de se enriquecerem às custas da vaidade da Majestade. A
vaidade torna bobas as pessoas: elas passam a acreditar nos elogios dos
bajuladores... Foi isso que aconteceu com um corvo vaidoso que estava pousado
no galho de uma árvore com um queijo na boca: por acreditar nos elogios da
raposa ficou sem queijo...
Pois
os dois espertalhões-raposa foram até o palácio real e anunciaram-se na
portaria, apresentando o seu cartão de visitas: “Doutor Severino e Doutor
Valério, especialistas em tecidos mágicos.”
O
rei já havia ouvido falar de tecidos de todos os tipos mas nunca ouvira falar
de tecidos mágicos. Ficou curioso. Ordenou que os dois fossem trazidos à sua
presença. Diante do rei fizeram uma profunda barretada, tirando seus chapéus.
“Falem-me
sobre o tecido mágico”, ordenou o rei.
Um
dos espertalhões, o mais loquaz, se pôs a falar.
“Majestade,
diferente de todos os tecidos comuns, o tecido que nós tecemos é mágico
porque somente as pessoas inteligentes podem vê-lo. Vestindo um terno feito
com esse tecido Vossa Majestade será cercado apenas por pessoas inteligentes,
pois somente elas o verão...”
O
rei ficou encantado e imediatamente contratou os dois espertalhões,
oferecendo-lhes um amplo aposento onde poderiam montar os seus teares e e
tecer o tecido que só os inteligentes poderiam ver..
Passados
alguns dias o rei mandou chamar o ministro da educação e ordenou-lhe que
fosse examinar o tecido. O ministro dirigiu-se ao aposento onde os
tecelões estavam trabalhando.
“Veja,
excelência, a beleza do tecido”, disseram eles com a mãos estendidas. O
ministro da educação não viu coisa alguma e entrou em pânico. “Meu Deus, eu
não vejo o tecido, logo sou burro...” Resolveu, então, fazer de contas
que era inteligente e começou a elogiar o tecido como sendo o mais belo que
havia visto.
“Majestade”,
relatou o minsitro da educação ao rei, “o tecido é incomparável, maravilhoso.
De fato os tecelões são verdadeiras magos!” O rei ficou muito feliz.
Passados
mais dois dias ele convocou o ministro da guerra e ordenou-lhe que examinasse
o tecido. Aconteceu a mesma coisa. Ele não viu coisa alguma. “ Meu Deus”, ele
disse, “ não sou inteligente. O ministro da educação viu e eu não estou
vendo...” Resolveu adotar a mesma tática do ministro da educação e fez de
contas que estava vendo. O rei ficou muito feliz com a seu relatório. E assim
aconteceu com todos os outros ministros. Até que o rei resolveu pessoalmente
ver o tecido maravilhoso. Mas, como os ministros, ele não viu coisa alguma
porque nada havia para ser visto. Aí ele pensou: “Os ministros da
educação, da guerra, das finanças, da cultura, das comunicações viram. São
inteligentes. Mas eu não vejo nada! Sou burro. Não posso deixar que eles
saibam da minha burrice porque pode ser que tal conhecimento venha a
desestabilizar o meu governo...” O rei, então, entregou-se a elogios
entusiasmados ao tecido que não havia.
O
cerimonial do palácio determinou então que deveria haver uma grande festa
para que todos vissem o rei em suas novas roupas. E todos ficaram sabendo que
somente os inteligentes as veriam. A mídia, televisão e jornais, convidaram
todos os cidadãos inteligentes a que comparecessem à solenidade.
No
Dia da Pátria, a cidade engalanada, bandeiras por todos os lados, bandas de
música, as ruas cheias, tocaram os clarins e ouviu-se uma voz pelos
alto-falantes:
“Cidadãos
do nosso país! Dentro de poucos instantes a sua inteligência será colocada à
prova. O rei vai desfilar usando a roupa que só os inteligentes podem ver.”
Canhões
dispararam uma salva de seis tiros. Ruflaram os tambores. Abriram-se os
portões do palácio e o rei marchou vestido com a sua roupa nova.
Foi
aquele oh! de espanto. Todos ficaram maravilhados. Como era linda a roupa do
rei! Todos eram inteligentes.
No
alto de uma árvore estava encarapitado um menino a quem não haviam explicado
as propriedades mágicas da roupa do rei. Ele olhou, não viu roupa nenhuma,
viu o rei pelado exibindo sua enorme barriga, suas nádegas
murchas e vergonhas dependuradas. Ficou horrorizado e não se conteve.
Deu um grito que a multidão inteira ouviu:
“O
rei está pelado!”
Foi
aquele espanto. Um silêncio profundo. E uma gargalhada mais ruidosa que a
salva de artilharia. Todos gritavam enquanto riam: “ O rei está nu, o rei
está nu...”
O
rei tratou de tapar as vergonhas com as mãos e voltou correndo para dentro do
palácio.
Quanto
aos espertalhões, já estavam longe e haviam transferido os milhões que haviam
ganho para um paraíso fiscal...”
Não
foi bem assim que Hans Christian Andersen contou a estória. Eu introduzi uns
floreados para torná-la mais atual. Agora vou contar a mesma estória com um
fim diferente. Ela é em tudo igual à versão de Andersen, até o momento do
grito do menino.
“O
rei está pelado!
Foi
aquele espanto. Um silêncio profundo. Seguido pelo grito enfurecido da
multidão.
“Menino
louco! Menino burro! Não vê a roupa nova do rei! Está querendo desestabilizar
o governo! É um subversivo, a serviço das elites!”
Com
estas palavras agarraram o menino, colocaram-no numa camisa de força e
o internaram num manicômio.
Moral
da estória: Em terra de cego quem tem um olho não é rei. É doido.
(Correio Popular, 11/09/2005)
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