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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cesária ou Parto Normal?

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É possível reduzir a taxa
de cesarianas no Brasil ?

Dr. Wladimir Taborda / Dr. Tenílson Amaral de Oliveira – Departamento de Perinatologia do Hospital Albert Einstein


Estima-se que um de cada 3 nascimentos no Brasil ocorra por cesariana. De acordo com o Ministério da Saúde a taxa de nosso país foi de 38% em 2001, muito superior à registrada nos Estados Unidos [20,8%], Inglaterra [19%], Escócia [18%] e Irlanda do Sul [9%], sendo considerada uma das maiores do mundo. De fato, a Organização Mundial de Saúde [OMS] reconhece que não existem benefícios para a saúde das mães e dos recém-nascidos com taxas de cesáreas superiores a 15%.


Porque então temos uma incidência de cesariana tão elevada no Brasil? Esta resposta é complexa e envolve múltiplos fatores, inclusive sócio-demograficos.


Os dados de 2001 do Ministério da Saúde revelam que as taxas de cesárea podem variar consideravelmente entre as diferentes regiões do país e também de acordo com a natureza do prestador do serviço médico, se público ou privado. Assim, a Região Nordeste registrou uma taxa de cesariana de 25,6% em contraste com a região Sudeste com 45,9%. Amapá e Sergipe apresentaram os menores índices nacionais de cesárea com 15,4% e 20,7%, respectivamente. São Paulo, com 47,9% e Rio de Janeiro com 48%, obtiveram os maiores índices no país. Embora aparentemente os estados mais ricos registrem mais cesarianas, podemos encontrar exceções: Rondônia tem 40,4% de cesáreas, aproximadamente a mesma incidência de Santa Catarina (40,1%). As variações também ocorrem dentro do próprio estado. Em São Paulo capital a incidência foi de 46,6% e em Campinas de 68,6%. Essas diferenças revelam que além de situação sócio-econômica, outras variáveis relacionadas à prática profissional e cultura local estão envolvidas.


Estima-se que cerca de 13% da população do Brasil tem planos privados de saúde (medicina de grupo, cooperativa, auto-gestão e seguradoras), concentrada principalmente na região sudeste, o que justificaria parcialmente o maior número de cesarianas da região. De fato, em hospitais privados de São Paulo a incidência de cesariana é raramente inferior a 50%, chegando a 90% em algumas instituições em contraste com os 25% habitualmente praticados em hospitais que atendem ao SUS.


Muitos são os fatores alegados para esta avalanche de cesarianas em hospitais privados: segurança com as técnicas cirúrgicas modernas, falta de tempo por parte da equipe médica em permanecer até 8 horas aguardando um parto normal, médicos com agendas muito cheias de compromissos no consultório particular, nas universidades ou na vida privada são exemplos comuns. As pacientes menos informadas também referem medo da dor do parto, receio de ficar com a vagina alargada pela passagem do bebê e risco de problemas com o bebê na hora do nascimento, como justificativas pela opção por cesariana. Muitos médicos ao invés de desmistificarem estes aspectos, preferem simplesmente marcar uma data conveniente para a família e para si próprios.


Atualmente observamos alguns hospitais privados investindo na organização do atendimento a parturiente, com ênfase no atendimento multidisciplinar e humanizado, como estratégia para reduzir as intervenções desnecessárias, que resultam em partos cesárea.


As evidências científicas acumuladas sobre este tema revelam o benefício do acompanhante (geralmente o pai) durante o trabalho de parto e exigem a revisão de práticas obstétricas ainda consideradas rotineiras e nem sempre benéficas (como a raspagem de pelos pubianos, a ruptura artificial da bolsa e a incisão na vagina, episiotomia). Além disso, a participação sistemática da enfermeira obstetra – tradicionalmente menos intervencionista que o médico - e a disponibilidade de quartos de parto especiais, denominados Labor and Delivery Room (LDR), representam práticas de incentivo ao parto vaginal em hospitais privados e públicos.


A experiência da Maternidade Albert Einstein, por exemplo, revela que a taxa de cesárea foi de 18% entre as 239 parturientes que optaram pelo LDR entre abril de 2000 e junho de 2001, tendo ocorrido 195 partos normais neste grupo de pacientes.


Todos estes aspectos demonstram que existe oportunidade para a redução segura das taxas de cesariana no Brasil. O fator decisivo é a prática médica. A mudança de atitude e a motivação de pacientes, familiares e profissionais, são os mais importantes. Existe experiência internacional bem sucedida capaz de reduzir a incidência de cesárea. A educação e a revisão da prática profissional apresentam êxito em centros internacionais onde foi implantada, especialmente a segunda opinião sobre a indicação da cesariana. Esses relatos comprovam que a redução foi obtida sem elevação na morbidade e mortalidade de mães e recém-nascidos. A educação pré-natal diminuiu a ansiedade e reforçou a defesa do parto vaginal. Além disso, estabeleceu-se conduta uniforme para o trabalho de parto com o objetivo de encorajar um processo de decisão consistente, baseado em protocolos de assistência ao parto. Acreditamos que o componente mais importante para o sucesso é o compromisso das instituições de saúde e a motivação dos médicos para empreender uma mudança em sua prática clínica.


As taxas nacionais de cesariana permanecem muito mais elevadas do que a ciência ou a prudência pode justificar. As dificuldades residem na obtenção de reduções seguras, apoiadas nas melhores evidências científicas disponíveis para atingir este objetivo.


 

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