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domingo, 16 de outubro de 2011

Critica, pode fazer. Mas tem que saber fazer...

Princípe Caspian - As Cronicas de Narnia

Bela Crítica.





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Toda continuação tem seus limites. Ainda mais quando se trata de uma adaptação literária. Salvo por este pressuposto, As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian pode respirar mais aliviado. Contudo, saber explorar o próprio território a fim de verificar-se até onde vai a cerca é um critério necessário para alcançar o apogeu. Neste ponto, o longa deveu. O que torna a premissa inicial verdadeira, porém não válida.

As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian
por Arthur Melo

Baseado numa história menos cativante do que o episódio que iniciou a série nos cinemas, a segunda aventura dos irmãos Pevensie na terra de Nárnia dispensa explicações e apresentações longas, além de manter o argumento religioso mais evidente sem atrapalhar a estrutura central. Um amadurecimento lógico e descontínuo que cria uma certa distância entre os dois filmes que ora colabora ora se torna perturbador; um desequilíbrio que coloca em dúvida em alguns momentos se estamos mesmo diante de um produto relacionado ao Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa.

O que transforma Príncipe Caspian num ponto de interrogação são as suas oscilações. Ao invés de elevar-se a um patamar superior, o diretor – e um dos roteiristas – Andrew Adamson parece relutante em progredir, mesmo que demonstre alguns indícios de amadurecimento. Indícios estes que podem ser observados desde o trabalho realizado na elaboração dos personagens até as pinceladas atribuídas pela direção: Os quatro irmãos Pevensie cresceram. Estão mais rápidos, inteligentes, tomam decisões audaciosas em conjunto e, ainda juntos, transformam as próprias palavras de ordem em ações. Um avanço no psicológico que é mostrado sem ter de se aprofundar demais, o que ocasionaria em maior investimento de tempo de projeção.

Aliás, a duração do filme se mostrou uma inimiga mais cruel do que os Telmarinos. Não que duas horas e vinte seja uma soma exorbitante, mas os minutos mal aproveitados resultam numa extensão irrelevante de passagens que já contribuíam pouco ao contexto. Um percurso que poderia, e aliás deveria, ter sido investido no personagem do título. Caspian, que tem seu caráter apenas sugerido pela trama, é uma adição relevante mais como personagem do que Ben Barnes é como membro do elenco – apesar de não comprometer a produção. Sua postura no filme desvia um pouco o foco outrora sempre em cima dos quatro irmãos. O que não retira a evidência favorável do sotaque hispânico de Barnes ser menos explícito ao compararmos com os Telmarinos; uma força para aproximar o personagem aos irmãos – insistentes como protagonistas.
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Proximidade crucial. A rivalidade entre Caspian e o então rebelde Pedro – uma disputa para “marcar território” – se desenrola num nível interessante, atingindo o apogeu em momentos estratégicos e bem dispostos no enredo. Um reflexo da semelhança de personalidade de ambos muito bem colocada que influencia o próprio príncipe a rever o seu lugar nos fatos, exibindo então a matéria-prima de seu real (ênfase) caráter – ao passo que magnifica a típica intolerância da idade de Pedro; falha, por não apresentar um momento de transição deste, desvirtuando um pouco da imagem exibida no longa anterior. Já Edmundo, sem dúvida, é o personagem que mais ascendeu no quesito qualidade. Sua figura é mais esperta, divertida e espontânea entre os Pevensie, um mérito também do ator.

Adamson mudou seu olhar sobre o estilo narniano. Bem como reviu seus conceitos na hora de construir os vilões. A exposição visual da Feiticeira Branca deu lugar ao esteriótipo latino. O caráter hispânico dos Telmarinos é um detalhe interessante. Cria uma maior realidade, mas foge um pouco da verossimilhança que o filme estabelece. Sem necessitar desmerecer a qualidade artística do elenco, ficou um vazio que Tilda Swinton fez questão de preencher e transbordar em sua malevolência nos primórdios dos encantos de Nárnia no cinema. Aliás, sua mínima presença foi o suficiente para resgatar um pouco do que tínhamos de melhor anteriormente.

O clímax da produção de Príncipe Caspian reside na balança sempre desregulada que o filme se transformou. O roteiro demasiado esticado e sofrível de trepidações que consegue provar o aperfeiçoamento dos personagens centrais (um contraste curioso) é acompanhado por uma técnica igualmente vacilante. Os efeitos visuais convencem e funcionam com primor quando o assunto é construir (ou destruir) cenários colossais, mas não emplacam quando se é cobrada a graça e suntuosidade que alguns animais da Industrial Light & Magic tinham. Tampouco em grandes realizações da animação digital. As seqüências de batalha (regidas por tomadas curtas demais) satisfazem e são bem ensaiadas e panorâmicas, mas estão muito longe de reprisar os queixos-caídos que “O Senhor dos Anéis” proporcionou – dispensando comparações, afinal, os próprios produtores chegaram a citar a Trilogia do Anel e prometeram exatamente o mesmo efeito. De fato, os golpes de espada e armas brancas estão definitivamente mais realísticos e a coreografia faz bonito, auxiliada por uma escolha de ângulos e enquadramentos singulares poucas vezes vistos. Fora a melhoria exemplar da fotografia, que perdeu a estética artificial e ganhou um padrão mais brutal sem deixar de lado a diversidade de cores que vimos no início da série.

É lógico que um filme como Crônicas de Nárnia preza a técnica. É o que muitas vezes faz do trabalho cinematográfico um grande sucesso. Apesar das poucas inovações, da edição de som menos qualitativa e da trilha sonora belíssima, porém menos apreciativa, Príncipe Caspian apresenta bons resultados. A maquiagem alcança níveis de êxito extremistas, o figurino está mais impecável e detalhado do que antes e a direção de arte supera expectativas. Não seria surpresa se estes critérios não fossem levados tão em consideração pelo público quanto os efeitos visuais. Mas, ao menos, os fãs podem se dar por satisfeitos pelo ótimo trabalho na roteirização da obra de C.S. Lewis e pelo bom desempenho do mesmo ao cuidar tão carinhosamente de seus personagens. Isto posiciona a produção num degrau bem superior a outras realizações da sétima arte. Talvez o grande mal que assombra a terra de Nárnia esteja além dos poderes de Aslam; uma adversidade que mora num lugar além dos campos que um guarda-roupa ou a mais nobre das trombetas possa levar. Está num castelo grande e branco, com um rato um pouco diferente de Ripchip como anfitrião.

The Chronicles of Narnia – Prince Caspian (EUA, 2008). Fantasia. Aventura. Walt Disney Pictures
Direção: Andrew Adamson
Elenco: Liam Neeson, Ben Barnes, Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell, Peter Dinklage, Warwick Davis


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