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Texto de outrem:
O milionário mora ao lado,
de Thomas Stanley e William Danko
Como você imagina que vive um típico milionário americano? Ele tem o carro do ano, vive em luxuosas mansões, gasta horrores com jóias e artigos de luxo, certo? Errado. Apenas uma minoria de milionários vive uma vida de ostentação. Um típico milionário americano, na verdade, leva uma vida bastante frugal, e pode passar despercebido aos olhos da maioria dos norte-americanos. Ele pode, inclusive, ser o vizinho do lado. Daí o nome do livro: “O Milionário mora ao lado”.
O conteúdo do livro foi fundamentado numa extensa pesquisa científica realizada pelos autores durante mais de 20 anos, a partir de respostas a questionários enviados aos milionários, bem como entrevistas pessoais e sessões de conversas com grupos de abastados. Apesar de o livro ter sido escrito no fim da década de 90, suas conclusões permanecem inteiramente válidas, uma vez que, mais do que levantar números e estatísticas, o livro registra fatos e hábitos dos milionários norte-americanos.
Uma das primeiras coisas que os autores desmistificam é que alta renda não significa necessariamente estar rico, uma vez que a pessoa pode gastar tudo o que ganha, ter um alto padrão de vida (= alto consumo) e, nessas condições, não está ficando rica. De acordo com os autores,
Riqueza é aquilo que você acumula, não aquilo que você gasta.
Aliás, riqueza tem muito mais a ver com um estilo de vida baseado muito mais em perseverança, muito trabalho, planejamento e auto-disciplina. Riqueza tem mais a ver com construção de patrimônio líquido do que com alta renda. Outro dado curioso é constatar que a maioria dos milionários não herdou sua fortuna: oitenta por cento deles são ricos de primeira geração.
O livro trabalha sete características comuns a todos os que conseguiram construir riqueza – os denominados PAR (Prodigiosos Acumuladores de Riqueza) – em contraposição aos SAR (Sub-Acumuladores de Riquezas). Esses sete denominadores comuns correspondem a sete capítulos do livro:
1. Levam uma vida frugal: ou seja, vivem muito abaixo de seus meios. Os autores chegam a dizer que ser frugal constitui a pedra fundamental na construção de riqueza. Nesse tópico, é mostrado que um milionário americano típico tem um estilo de vida surpreendentemente simples: dentre outras coisas, não paga caro por relógios, sapatos e ternos, e planeja muito bem as suas compras, aproveitando sempre que possível as liquidações e os cupons de desconto.
2. Alocam de maneira eficiente os fatores tempo, energia e dinheiro, com o objetivo de construir riqueza: constatou-se que os PAR, em relação aos SAR, alocam quase o dobro de horas mensais para planejar seus investimentos financeiros. É curioso observar que os SAR investem em aplicações financeiras de fácil resgate, já tendo em vista as imediatas necessidades de consumo, ao passo que os PAR investem em negócios e aplicações que requerem mais planejamento. Em relação às ações, os PAR também não ficam girando a carteira de modo constante: pelo contrário, comprovou-se que a maioria deles conservam suas ações durante vários anos.
3. Crêem que a independência financeira é mais importante do que exibir alto status social: os típicos milionários americanos não gastam horrores em veículos: grande parte deles prefere usar veículos comuns norte-americanos, ao invés de luxuosos importados, sendo que parcela considerável compra carros usados.
4. Não receberam ajuda financeira dos pais: como dito acima, a maioria dos milionários americanos é de primeira geração e não receberam o que os autores denominam de PSE (Pronto-Socorro Econômico), presentes em dinheiro (ou conversíveis em dinheiro) dos pais. A conclusão lógica é a de que doar precipita o consumo, mais do que economia e investimento. Uma conclusão reveladora da pesquisa é que, comumente, o filho economicamente mais produtivo recebe a menor parte da riqueza dos pais, enquanto que o menos produtivo recebe a maior parte. Disso se extrai uma conclusão, estatisticamente comprovada: “quanto mais dinheiro um filho adulto ganha de presente, menos irá acumular; os que ganham menos presentes monetários acumulam mais”.
5. Seus filhos adultos são auto-suficientes economicamente: nesse capítulo, os autores abordam o tema da transmissão de riqueza intergeracional, incluindo as 10 regras que os pais abastados ensinam a seus filhos que se tornaram bem-sucedidos.
6. São competentes para identificar as oportunidades de mercado: aqui são relacionadas algumas das profissões e serviços que têm como público-alvo os milionários norte-americanos. Talvez seja o capítulo que menos interesse ao leitor brasileiro, já que pouco do que está nesse capítulo pode ser aproveitado para ser aplicado aqui.
7. Escolheram a ocupação certa. Concluiu-se que a maioria dos abastados é constituída por proprietários de negócios e profissionais liberais autônomos. Em relação a esse ponto, chegou-se a outra curiosa conclusão: embora o senso comum tende a acreditar que são as empresas de alta tecnologia as que mais fornecem milionários, percebeu-se que, no longo prazo, quem acaba triunfando e sobrevivendo mais são empresas de categorias banais/convencionais de negócios, como manufaturas de lambris (alguém sabe o que é isso? ) e de materiais de construção, lojas de eletrônica e de peças de automóvel.
Ao longo do livro, e para facilitar a compreensão, são mostrados diversos casos concretos de pessoas milionárias, que estão no grupo dos PAR, comparando-as com aqueles que pertencem ao grupo dos SAR. O interessante é notar que os membros do grupo dos SAR geralmente também apresentam renda elevadíssima, que poderia fazer com que eles se incluíssem no grupo dos PAR, porém, devido a um padrão de vida superior ao que poderia ostentar, estão na categoria dos SAR. Com isso, os autores demonstram que, para verdadeiramente acumular riqueza, não basta ter alta renda, é preciso dispor de um patrimônio líquido compatível com a sua renda anual.
Aliás, para acumular riqueza, tampouco é preciso ter alta renda: são mostrados exemplos concretos de pessoas que ganham uma renda relativamente baixa, como bombeiros, mas que estão na categoria dos PAR.
São diversas as conclusões do livro que surpreendem e geram polêmica. Numa delas, verificou-se que, em relação aos ganhadores de alta renda (que ganham no mínimo 100 mil dólares por ano), existe uma correlação negativa entre educação e acumulação de riqueza. Ou seja, quanto maior o nível de educação, menor será a chance de acumular riqueza. Isso ocorre porque os profissionais com muita instrução (médicos, advogados, engenheiros) iniciam muito tarde a corrida pelos ganhos, sendo difícil construir riqueza enquanto se está apenas estudando. A conclusão lógica é: quanto mais tempo a pessoa fica na faculdade, mais ela adia o início de sua produção de riqueza. Polêmico, não?
Eu já penso de um modo um pouco diferente: embora o grau de instrução não seja uma condição necessária para a acumulação de riqueza, ela no mínimo potencializa tal acumulação, ou seja, aumenta as chances de o indivíduo formar patrimônio, na medida em que o aumento de conhecimento conduz a pessoa a ter uma melhor interpretação dos fatos da realidade, utilizando-os em seu favor. Ademais, coloco o termo “educação” aqui, com o significado não restrito de “educação formal”, mas sim a toda e qualquer forma de aquisição de conhecimento especializado, que possa ser útil para aumentar o valor da atividade da pessoa, incluindo o tempo gasto em participação em seminários, palestras, leitura de livros etc.
Na verdade, entendo que a combinação “educação + vivência” é que aumenta as probabilidades da pessoa em vencer no jogo da vida. Um fator, isoladamente considerado, não pode explicar, por si só, o sucesso da pessoa em determinado ramo de atividades.
Conclusão
A leitura do livro é muito proveitosa e agradável porque, além de estarem suas conclusões empiricamente e estatisticamente comprovadas, não fica só na teoria, apresentando exemplos de casos reais de pessoas que são e não são acumuladoras de riqueza. Embora não se possa concordar com todas as conclusões da pesquisa (que, como afirmou o ViverdeRenda, é quase um estudo sociológico), muito do que está ali pode ser aplicado e vivenciado pelos leitores brasileiros que pretendem acumular riqueza, principalmente em relação ao estilo de vida frugal e modo de lidar com os investimentos, cujos resultados práticos, para serem obtidos, dependem, antes de mais nada, de uma profunda mudança de mentalidade acerca dos seus próprios hábitos de consumo.
O que o livro realça – e é importante destacar isso – é que é possível ser um construtor de riqueza (e mais, um prodigioso acumulador de riqueza), tendo uma renda relativamente baixa, desde que “se jogue bem na defensiva” (levando uma vida frugal), e se invista corretamente o dinheiro ganho.
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