Deus está sempre presente, testemunha ocular que poderia ser sempre invocada, em casos como o apresentado abaixo, se invocá-lo resolverá o problema é outra questao.
Compreenda ao final, porque o Ilustre Filósofo Cícero, utilizava a expressao: O Tempora! O Mores! Que pena naquela época no ano 63 a.c era assim, estamos em 2011, nao mudou nada, e vai demorar ainda muito tempo para a humanidade deixar de ser insana...
A Velhaca!
Um dia desses atendi um pedido desesperado do meu contador. Representá-lo juntamente com a mulher em uma audiência no Juizado Especial Cível. Fui convocado de véspera, no fim do expediente. Achando que era de conciliação, mal tive tempo de saber do que se tratava. Conforme sua história, sua mulher teria sido abalroada na parte traseira do seu veículo por outro dirigido por uma velha maluca. Ocorre que após prometer pagar os estragos, a velhaca fez queixa no juizado alegando que o carro à sua frente é quem teria dado uma ré e batido em seu veículo. O fato ocorreu na Avenida Candido de Abreu em pleno movimento de final de tarde. Embora inverossímel, o fato é que a velhota entrou com um pedido de indenização contra eles, invertendo as posições de culpa.
Surpresos, estavam revoltados com a atitude da idosa ladina. Além dos prejuízos causados por sua imprudência, ainda tinham que aturar uma velha desonesta, com a petulância de se valer da idade e esperteza para tentar amealhar um lucro. O juizado infelizmente aceita qualquer pretensão, inclusive as desonestas acintosas e obtusas. Como diria Cícero: O Tempora! O moris! Não gosto de praticar minha arte ali, mas atender meu contador naquela situação era mais que um trabalho. Era uma emergência. Fomos para a audiência.
Aberta a sessão, se apresenta uma jovem advogada na qualidade de mediadora. Chama as partes. Todos se dizem presentes. Olho para o lado e me deparo com uma velhota baixinha e enfezada, fazendo cara de mau e encarando o contador como a desafiá-lo para o braço. Ali, na entrada, quase tive um acesso de riso. Sua advogada com ares de desentendida, já demonstrava qual seria o nível dos debates. Na hora arrependi-me. Poderia ter dado uma desculpa e indicado um colega como opção. Minhas experiências ali sempre foram terríveis.
Sentados e identificados, começa a sessão brancaleone. Como eu já imaginava, a velhota armara o teatro. Torna-se colérica e já vai desrespeitando todo mundo. Ameaça meus clientes, a mim e até a mediadora que faz o papel de juíza. Baixinha, gorda, de cabelos curtos e brancos e jeito masculinizado, da uma tapa na mesa e demarcando território, diz que quer respeito, pois não admitirá prova em contrário ao que alega. Não agüento e tento disfarçar o riso. A velha percebe e me passa um descompostura respondida com sarcasmo. A “juíza” pede que ela se acalme e me deixe falar, cumprir o meu mister. Começo a defesa oral, chamo a tentativa aventuresca da velha de mentirosa, faço depreciações sobre sua história ridícula e peço a improcedência da ação. Pra quê? A velhota não se segura, dá um soco na mesa e grita a plenos pulmões fortes imprecações. Interrompe a defesa e é apoiada pela sua causídica que se revela mais doida ainda. Formam uma dupla infernal. Penso que uma camisa de força deveria se fazer presente. Admoestada pela “juíza”, perde de vez a compustura, dá outro murro na mesa e grita pra mocinha no papel de juiza: Me respeite sua fedelha...A advogada da velha também se levanta, dá um grunhido sobre qualquer coisa a respeito da ampla defesa. É o caos instaurado. Eu ali, rindo da situação e pedindo o controle da audiência para a mediadora. Tento reorganizar a bagunça, fazer cumprir a lei. Quero encerrar logo aquela opera buffa. Pergunto se havia testemunhas pra ouvir da parte dela, pois da nossa não há. A "juíza" pergunta à velhusca se ela tinha alguma. Raivosa e desafiadora, berra: TENHO SIMMMM.Apenas UMA! Atônito olho para os meus clientes suplicando por uma explicação pois disseram que ninguém se apresentara na ocasião e tudo fora muito rápido. Eles estão espantados, dão de ombros, não sabem como ela fez para trazer o improvável ao processo. O jeito é aguardar e tentar desqualificar, penso eu. A juíza pergunta qual o nome da testemunha . A velhaca levanta-se solenemente, rosto crispado de cólera e grita: DEUSSSSSS. Ouviramm? DEUSSSSS. Olhei para cima e esperei cair o pano da cortina do teatro pondo fim à comédia. Sorrindo mais uma vez com sarcasmo para a velhota, lembro que aquilo só provava definitivamente que os canalhas também envelhecem. A velha, obviamente, perdeu. Era só o que faltava, oras!
Fonte: http://quasetudobom.blogspot.com/search?updated-min=2010-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&updated-max=2011-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&max-results=22
O Tempora! O Mores!
apetece-me clamar como Cícero:
Catilina acaba se refugiando na Etrúria e morre em 62 a.C.. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, é assassinado em 43 a.C.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Mario Sergio Cortella, de Sobre a esperança (Papirus). O livro está em pré-venda no Submarino c/ preço promocional. Já comprei o meu! :)
O Tempora! O Mores!
O TEMPORA! O MORES!
Assim clamava Cícero contra a perversidade dos homens do seu tempo!
Olho as árvores plantadas outro dia e já morrendo quebradas, e
Oh! Tempos! Oh! Costumes!
O tempora, o mores
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indaga Marco Túlio Cícero, referindo-se ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato, urdindo um golpe contra o Senado.
Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, põe em sua boca a indignação popular: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”
“Ó tempos, ó costumes!”, exclama Cícero movido por sua atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”
Jurista, Cícero se esforça para que Catilina admita os seus graves erros: “É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia.”
Se Catilina permanece no Senado, não é apenas a vontade própria que o sustenta, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: “Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?”
Cícero não teme ameaças e expressa o que lhe dita o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto. (…) Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo na tua vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação? (…) Refiro-me a fatos que dizem respeito, não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria doméstica e à tua má fama, mas sim aos superiores interesses do Estado e à vida e segurança de todos nós.”
Os crimes de Catilina escancaram-se à nação. Seus próprios pares o evitam, como assinala Cícero: “E agora, que vida é esta que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão vasta assembléia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou? Se isto, desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação do silêncio?”
Catilina finge não se dar conta da gravidade da situação. Faz ouvidos moucos, jura inocência, agarra-se doentiamente a seu mandato. “Se os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te receiam” – brada Cícero -, “eu, por Hércules, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu, a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos, preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes, que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na alma e no coração?”
Cícero não demonstra esperança de que seu libelo seja ouvido: “Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E não poupa os políticos que, apesar de tudo, apóiam Catilina: “Há, todavia, nesta Ordem de senadores, alguns que, ou não vêem aquilo que nos ameaça, ou fingem ignorar aquilo que vêem.”
Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, põe em sua boca a indignação popular: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”
“Ó tempos, ó costumes!”, exclama Cícero movido por sua atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”
Jurista, Cícero se esforça para que Catilina admita os seus graves erros: “É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia.”
Se Catilina permanece no Senado, não é apenas a vontade própria que o sustenta, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: “Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?”
Cícero não teme ameaças e expressa o que lhe dita o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto. (…) Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo na tua vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação? (…) Refiro-me a fatos que dizem respeito, não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria doméstica e à tua má fama, mas sim aos superiores interesses do Estado e à vida e segurança de todos nós.”
Os crimes de Catilina escancaram-se à nação. Seus próprios pares o evitam, como assinala Cícero: “E agora, que vida é esta que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão vasta assembléia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou? Se isto, desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação do silêncio?”
Catilina finge não se dar conta da gravidade da situação. Faz ouvidos moucos, jura inocência, agarra-se doentiamente a seu mandato. “Se os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te receiam” – brada Cícero -, “eu, por Hércules, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu, a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos, preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes, que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na alma e no coração?”
Cícero não demonstra esperança de que seu libelo seja ouvido: “Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E não poupa os políticos que, apesar de tudo, apóiam Catilina: “Há, todavia, nesta Ordem de senadores, alguns que, ou não vêem aquilo que nos ameaça, ou fingem ignorar aquilo que vêem.”
Catilina acaba se refugiando na Etrúria e morre em 62 a.C.. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, é assassinado em 43 a.C.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Mario Sergio Cortella, de Sobre a esperança (Papirus). O livro está em pré-venda no Submarino c/ preço promocional. Já comprei o meu! :)
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